sábado, 6 de março de 2010

POR FAVOR...




És a verdade dos que te negam,
rezam-te como oração decorada
numa bíblia editada pelos crentes
da virtude suja e manchada
pelos sorrisos cinzentos sem alma,
pelas mãos que subtraem oferendas,
rosto de pó de cinza maquilhado
com corantes de ilusão,
palavra escrita com tinta sangrenta,
pano de chão já rasgado e cansado
de limpar as pegadas de quem te sustenta.
És estrada de nevoeiro vermelho
que rasga a alma de quem a percorre,
bosque de mato espinhoso
repleto de armadilhas engenhosas,
beco deserto sem sinal de trânsito
ladrilhado por gargalhadas estridentes
de juízos errados gravados nas mentes,
adjectivação incoerente e desastrosa
citada por voz doce e melodiosa,
substantivo contornado por sinónimos
melindrosos, que te escondem a identidade,
persuasão falsa que se quer tão perigosa.
Eu grito-te guerra em todas as frentes,
indução em erro, ficção, falsidade,
dizem-te afirmação contrária à verdade,
eu conheço o teu nome induzido em erro,
presente na rotina da multidão que
talhou de basalto um negro coração,
estou exausta de fingir que não te vejo,
extenuada de ser arbitrária ao teu desejo,
és demolição do edifício da paz interior
que te decifra sabendo-te de cor,
serás banida, punida, varrida
com a vassoura da indignação,
por favor... vai-te embora
da tua religião não sou oradora,
quero sentir a paz de quem bebe
a razão, com firmeza sentida
declaro morte à mentira
mesmo que isso implique a
minha solidão...

Cláudia Ferreira
05/03/2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

DESPIDA DE MIM


Abandonei-me sem retorno a mim,
o que fui segredei ao vento,
o abrigo a quem confiei
o tesouro humano que era
para que o possa com justiça entregar
a quem por ele tanto espera.
Leva o meu sorriso de felicidade acreditado
ele pode iluminar o rosto
de quem conheceu o desgosto,
enxugando as lágrimas dos que
nada aguardam da vida, conta-lhes
que tomei o seu lugar,
não precisam mais chorar,
eu guardo as suas dores
para que se possam resgatar.
Leva as minhas mãos aos doentes,
acarinha-os com a minha fé,
nos meus dedos está uma farmácia
de virtude de quem com um
toque de pureza alivia o tormento
e ordena ao corpo que se regenere
e se vista de saúde.
Leva o meu olhar brilhante
às crianças dos quatro cantos do mundo
que perderam a infância
roubada pelas calamidades,
agora podem sonhar de novo
com um mundo que criarão
onde a cor e a alegria
matam a escuridão,
diz-lhes que em cada uma delas
deposito toda a minha esperança
como quem rega a mais bela flor
sei que vão crescer a acreditar
na importância do amor.
Leva a minha força às searas de trigo
para que cresçam milagrosamente
transformando-se nos mais saciantes pães,
distribui um por um como exterminadores
da fome ao que reza por uma migalha
e há dias que não come.
Leva o meu coração e sopra-o
por todos os Homens,
deixa que se contagiem
com a beleza do perdão,
com a nobreza dos sentimentos
pois assim a sua passagem por aqui
jamais terá sido em vão.
O que restar do que te entreguei,
transforma em brisa perfumada
a cada entardecer,
sabes que me despi de mim
para criar um lugar de bem aventurados,
agora vai...
eu fico aninhada na minha alma
não esqueças os meus recados...

Cláudia Ferreira
05/03/2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

PRISIONEIRA


Entrei silenciosamente no espectáculo
que havia começado,
uma história interminável no tempo
e no espaço, da qual ninguém
conhece o princípio ou o fim,
existia um lugar vazio e recatado que ocupei,
fui olhando à minha volta cada gesto,
rosto, cor ou som, o barulho era muito...
figuras agitadas que buscavam uma qualquer coisa,
as palavras eram soltas e eu subentendi
que havia chegado sem saber ao palco da vida,
esse elenco destemido que é passagem obrigatória
que a quermesse do mundo oferece sem aquisição
empurra-nos até os pés tocarem o chão.
Eis que me vejo perante a condição humana,
vasculho nos rascunhos do karma algum ensinamento
para poder dar um primeiro passo determinado,
mas a bagagem do nascimento vem vazia de manual,
com ouvido mais apurado escuto um murmúrio lá dentro:
tens alma e coração, corpo e pensamento,
és matéria e espírito, conjuga a sua convivência,
inspira cada detalhe da tua nova casa,
programa os cinco sentidos de que vens dotada,
a razão da tua existência busca-la em tudo e todos,
afinal aguarda-te a imensidão de seres pessoa
entre os demais que algures como tu pensavam estar à toa.
A descoberta convida-me trajada de liberdade destemida,
que lugar bonito e completo, tudo aqui é tão perfeito
que apetece tocar cada objecto, respirar cada essência,
escorregar pela harpa que embala a lua e o sol,
é um paraíso de felicidade pintado por uma mão de criador,
sinto-me levitar a cada sorriso,
quero falar com quem me cruzo,
a voz é um instrumento musical que
compõe sinfonias chamadas frases,
a luz e o escuro alternam acontecimentos
que são medidos utilizando a gíria de novo ou velho...
que vão ditando o crescimento do ser no seu todo,
sem compasso de espera
que interrompa um sonho ou uma quimera,
nem me dei conta e já faço parte do quadro...mas
agora que o vejo a primeira vez...parece-me imperfeito,
creio que me deparo com uma contrariedade a qual
baptizo de boa vontade e estarrecida dou-me conta
que é esse detalhe que se esqueceram de emoldurar,
o deslumbramento deu lugar à apreensão...
Então os sentimentos? São fechados num porão?
Em que segredo temível toquei pois de imediato
se erguem muros em meu redor, de pedras enfurecidas
de maldade enegrecidas, a minha sensibilidade
está subjacente à condenação,
que intrometida me proclama diferente,
vota-me à solidão, pelas masmorras da tristeza
lanço um olhar pela multidão, rezo pela epidemia
da amizade pura, cumplicidade sem restrições,
empatia generosa, solidariedade sem imposições...
acredito que se propagarão com uma pureza sem fim,
até esse instante sou...prisioneira de mim...


Cláudia Ferreira
23/02/2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CHOVE...



O céu escurece e veste-se de negro,
as nuvens compadecidas com a minha dor
choram compulsivamente e juntam
as suas lágrimas às minhas para que
ninguém perceba que as gotas que
rolam no meu rosto não são água
mas sim mágoa,
o sol refugiou-se lastimando
a minha sorte fragmentada por
um qualquer temporal de assombros,
por um raio solto que deitou por terra
uma árvore transformada em obstáculo
intransponível, gigante Adamastor
que me assusta e perturba a serenidade
do meu mar forçando-me a fraquejar
tomada pelo pânico dos acontecimentos,
Cabo das Tormentas do meu eu
imponente perante a nau frágil em
que me transformei, de mastro rasgado
pelos dissabores, de casco lascado
pelas ondas da desilusão de quem um dia
foi mestre do destino e o deixou naufragar,
afundou-se a minha tripulação de esperança,
acordei deste naufrágio parecendo que
a vida foi não mais que uma lembrança.
Chove torrencialmente sem cessar
consequência do meu ser que soluça
revoltado por um sim mascarado de flor,
por um bosque encantado que alguém esboçou
enganosamente num qualquer
papel de cenário rasgado,
sorrisos que escondiam intenções tenebrosas
com dentes de vampiro afiados para sugar
até à última gota a felicidade que incomodava,
a serenidade foi trespassada por mãos
acolhedoras de lâminas afiadas portadoras,
tudo era um vazio preenchido de infinito,

criaturas que se vestem de persuasão
são laços de veludo negro sem coração
que amarraram tudo o que brilhava em mim
corroídas pela inveja que se revelou num trovão.
Saio à rua de pluviosidade abraçada,
frio húmido e gelado tenho como casa,
escorro pelos beirais
lavando a sujidade do Homem,
salpico os transeuntes nas poças do chão
para que abram os olhos de um alguém
que é multidão
inconsciente, anestesiada
pela rotina da avidez tão exigente,
trovejam os céus que comigo corroboram
a urgência da reformulação
do substantivo Humanidade na abrangência
de toda a sua complexidade,
parecendo que a cada dia se move,
sou mensageira da meteorologia dos sentimentos,
saudosos de um arco-íris de autencidade
que nas suas cores risca mentira e escreve verdade,
mas hoje...chove...


Cláudia Ferreira
20/02/2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

GOSTA-SE...E PRONTO...



Bolas de sabão desenham no ar
um ponto de interrogação
oriundas da passagem do sabonete da incerteza
pelo meu inconsciente recatado de destreza,
incoerência de resultados elaborados pela ciência
que sabe levar o Homem à lua
mas deixa em terra a explicação
das escolhas humanas que as mentes
aconchegadas no comodismo
aguardam sem esforço uma revelação
colocando no mesmo saco da indagação
o que é crucial ou banal
onde a introspecção não dá qualquer sinal.
Serei atrevida por me permitir
ir além do que os olhos vêem?
Serei pecadora por me predispor
a passar a verdade vociferada
e enraizada em que todos crêem?
O disfarce é uma doutrina da qual
não sou seguidora nem tampouco
a representação que não pela
expressão de arte
tem em mim uma espectadora,
a inquietude é uma aprendizagem contínua
que talha a escultura da minha personalidade
levando nutrientes ao meu crescimento interior
sabedor da diferença entre existir e viver,
contar e somar, supor e verificar.
As bolas de sabão deixam cair o meu
ponto de interrogação que alegre
por voar se diz de volta a mim
para enfatizar as palavras que se ajeitam
para perguntar:
De onde, quando e como surgiu o verbo gostar?
Não quero frases feitas ou lugares comuns
teorias ornamentadas de literatura,
por isso a minha alma de pássaro sugere
que procure na primeira pessoa do singular
reformulando a minha questão com objectividade,
olho o espelho que reflecte a minha inquietação
sede de justificar o capricho do meu coração
que palpita por ti desde o dia em que Cupido
desajeitado o converteu enamorado,
suspiro saudoso da alma que me atormenta
procurando a solução para este nós inacabado,
mas porque gosto de ti?
Não quero! Não fui eu que escolhi!
Vai-te embora arrepio de paixão
quero cessar esta devoção,
não quero gostar de ti!
Os meus olhos perdem-se no infinito,
cai-me no rosto uma bola de sabão
que beija a minha face numa
caricia até ao meu ouvido
sussurrando letras de um qualquer conto
repetindo este refrão:
Ninguém escolhe as pessoas de quem gosta...
Gosta-se...e pronto...

Cláudia Ferreira
14/02/2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

AOS (E)NAMORADOS



Vocês que enchem o mundo
com o mais belo dos sentimentos
não aguardem por uma data
o que podem manifestar
a cada segundo sem contenções
não se deixem levar
pelas celebrações com data marcada
e ofertas materiais de quem de
amor não sabe mesmo nada,
ousem mostrar um afecto
sem medo do ridículo,
com pureza e nobreza,
no silêncio de um gesto,
no grito dos sentidos,
nunca se intimidem pela dificuldade,
não existe persistência
que não derrote a adversidade,
o longe é perto demais,
a diferença traduz-se em igualdade,
cada degrau da incerteza
é subido com tenacidade,
ontem já foi passado e
o amanhã é uma surpresa
pois nada é definitivo nem eterno
senão o presente que podem
agarrar sem pensar,
não procurem leis ou remédios
e lógica ou razão,
a essência está aí,
fechada na vossa mão.
O amor é a mais bela das flores,
o mais inebriante perfume,
o ser de todas as cores,
alimentem-no com doçura,
reguem-no com ternura,
guardem esse néctar abençoado
na adega do coração para que
possa ser bebericado, degustado
sem qualquer moderação,
toquem o céu e percam-se nas estrelas,
construam pontes para
caminhar sobre os entraves,
falhem redondamente e
voltem para continuar
a caminhar nessa estrada dourada
pelos deuses abençoada,
onde pouco consegue ser muito,
onde nunca pode ser já,
criem uma linguagem só vossa,
cantem o que a alma vos sussurra
com uma nota identificada,
subam montanhas de desejos,
vejam o horizonte sem projectos,
ergam um castelo de momentos
com tijolos de instantes,
assistam ao enlace do céu no horizonte
com sorrisos de criança radiante,
mas sobretudo...
não tenham receio
do vosso barco naufragar,
pois pior que não terem conseguido...
é não ter havido a coragem de tentar...

Cláudia Ferreira
13/02/2010


LÁGRIMAS DE SANGUE



Abro o livro da nossa história
escrita por cada dia que
a vida nos permitiu
sermos personagens principais
de um guião predestinado
à tragédia que a plateia da ironia
assiste regozijada aplaudindo de pé
a nossa derrota idolatrada,
ávida de sangue e lágrimas
sem traço de misericórdia
sorri sombria ao trespasse
de dois corações abraçados
pelo infortúnio da devoção
que rezam a cada hora,
suplicando o resgate
de uma liberdade sem demora.
Que autor foi o criador deste romance
condenado pela crítica sarcástica?
Quem criou o cenário embelezado
pela cor da nossa lástima?
Personagens secundárias entram
neste elenco de papéis sabiamente
decorados com um desempenho
eloquente de vilões de emoções
que nos estendem as mãos
sujas pelo pó da traição,
agarram-nos num ápice
para manipularem, troçarem,
espezinharem, até à nossa exaustão
e num impulso empurram
as nossas almas já devoradas
para o tão temido alçapão da negação.
Releio cada página do livro com
a esperança dele conter uma
resposta encoberta, um parágrafo
por inventar, uma frase inacabada,
uma letra em vão caída no chão,
uma não frase de ilusão.
Que texto amaldiçoado é este
que deita por terra a minha esperança?
Porque não te reescreves de alegria?
Porque me subjugas a este massacre cada dia?
Interrompo a leitura pois dos meus olhos
caiem lágrimas de sangue
ao sentir essa recordação e leio-me
no pensamento sabendo de antemão
uma verdade, um ensinamento:
No amor chegamos à resignação...
...mas nunca ao esquecimento
...




Cláudia Ferreira
12/02/2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

NÃO SEI...NEM SEI SE O SABEREI...



O dia camufla a tua ausência
mas a noite é cruel e rega
as raízes da minha saudade de nós,
o silêncio convida ao eco do nosso riso
de alegria que preenchia e embelezava
o meu coração de cristal brilhante
que irradiava luzes da cor do carinho,
calor, paixão, amor, devoção...
Éramos nós...
Sem tempo nem lugar, sem limites para sonhar,
asas soltas para voar no céu
bem alto de quem cruza o horizonte
dos sentidos deslumbrados,
palavras bebidas pelos lábios que se tocam
e falam dialectos secretos,
corpos que tremem ruborizados pela
inocente timidez de se saberem desejados,
somos meninos sentados num banco de jardim
de mãos dadas com a pureza desse sentimento
que é tão nosso, nascido à revelia do pensamento
sem perguntar se podia ficar
se o podiamos guardar tatuado na alma,
imponente, corajoso, forte, poderoso, avassalador,
mar agitado que se viu incontrolado,
a adversidade desencadeou a tempestade,
as ondas afogaram o destino,
as nuvens choraram o nosso desgosto,
o vento soprou raivoso sobre aqueles
que moveram a terra para apartar os nossos caminhos,
o fogo chicoteou com labaredas os dedos perversos
de quem nos fechou a porta da felicidade,
o universo ficou magoado ao ver-nos
separados pelas garras da águia da inveja,
da cobiça, da intriga, da mentira, da perversidade,
que frustrada liberta a sua ira sobre nós
traçando um eu sem ti..., um tu sem mim...
Suplico ao mundo para te devolver...
Onde estás? O que sentes?
Não sei...nem sei se o saberei...
Mas sei onde estou e o que sinto...
Estou aqui, pisando este soalho
construído pelos destroços
daquele coração de cristal
que caiu no chão e se partiu,
todos os dias encontro um pedaço
e guardo-os um a um na gaveta da dor
de um desgosto de amor,
existo sem viver, este aperto no peito
solta uma lágrima, vontade sem querer perguntar
nem responder, um tudo cheio de nada,
multidão fechada na mão que aguarda
a minha voz calada que grita estilhaçada:
VOLTA!!!
Como é a tua vida sem nós?
Não sei...Nem sei se algum dia o saberei...



Cláudia Ferreira
09/02/2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

SERÁS ASTRO?





De que galáxia chegaste de estrelas revestido?
Luz intensa o teu olhar raiado de uma transparência
sobrenatural que liberta faíscas estremecedoras,
a tua voz são acordes de piano afinados
que embelezam essa noite de lua cheia,
os teus dedos perfumados de jasmim foram tecidos
com subtileza pelos mais belos fios de seda carmim.
Com que energia cósmica leve e inaudível
te deslocaste até mim?
Teu andar é uma valsa que abraça
num rodopio de passos de cetim,
os teus braços são dois raios de sol roubados
que liquidificam glaciares
ao olharem para ti, o teu corpo
é vulcão em erupção
lava escaldante que gosta
de se sentir desconcertante.
Que constelação te criou
e sabendo-te um astro te enviou?
Tua boca é fruto silvestre
de vermelho frutada de
de vitaminas pincelada,
teu rosto foi talhado pelo
mais talentoso artesão
com traços de força bela e
leve pitada da mais deliciosa canela.
Olho para o céu e procuro-te
sentindo o momento mágico em que
o teu olhar se cruzou com o meu,
relâmpago de paixão num abraço que cedeu
sobressaltando o meu mundo sereno
que inebriado se rendeu ao teu,
não sei se por um segundo ou por um ano
pois não existe tempo no enlace fugaz
de dois seres recortados para a moldura do amor,
não existe espaço que resista
ao fervilhar veloz do sangue aquecido
pelo bater incontrolado de dois corações
que sentem o sabor divinal
de uma fusão de almas sem temor,
eternizadas no cosmos dos sentidos
desobedientes e atrevidos,
trovoadas de emoções sem definição,
fascínio da felicidade sem padrão,
no silêncio rezamos juras inéditas
entregues a uma estrela cadente
e desapareces nesse instante
à velocidade da luz sem que
tenha tempo de saber quem és
tu deixas em aberto o teu rasto,
grito ao universo o teu nome...
...que não sei...
...
SERÁS ASTRO?



Cláudia Ferreira
06/02/2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CAVALEIRA DE SONHOS




Rabisco na folha solta da minha imaginação
traços de personalidade fragmentada
pela erosão da realidade veloz
que atropela um inconsciente desolado
perdido no nevoeiro dos desejos sem voz.
Observo traços soltos que o lápis do desencanto
teima em desenhar sem cessar
expressão desordenada de um pensamento
que divaga ao procurar no abandono
o caminho de retorno
murmurando a memória de uma estrada
situada entre a partida e a chegada
da ousadia do sonho inconformado
por se expressar abandonado
em folha rasurada pela alma
de cicatrizes adornada,
sufocada pelo muro da razão.
Um vento que sopra
sobre a minha folha de papel
transporta-a no rodopio de um carrossel
de esboços que pedem para ter forma
adivinhando-se um cavalo que salta
para outra dimensão, essa que só conhece
quem não se esconde no biombo da ponderação
seres que se negam, anulam,
estranguladores de vozes interiores,
corações amordaçados, amedrontados
pelo receio de sentir, desejar, rir, chorar,
gritar, amar...e um sem fim de vocábulos
que traduzem estagnação do crescimento interior,
desconhecimento de momentos de ardor.
Fito o cavalo que me sabia sedenta
de acariciar a sua crina de esperança
a mulher dá lugar à criança que dentro de si
teima em mostrar que é imperativo sonhar,
sem hesitar entro a galope na existência com vida
trago uma estrela para iluminar o caminho,
um raio de sol para aquecer a solidão,
um pedaço de céu para salpicar de azul a escuridão...
assim sou eu: CAVALEIRA DE SONHOS...
Procura-me num pedaço de papel,
num rasto esbatido, numa noite de luar,
num sorriso perdido, num rasgo de sensações,
num mantra que ecoa, num botão caído num chão,
numa brisa que te afaga o cabelo, no refrão
da tua canção esquecida...
Agora tenho de ir...
lembrei-me de uma verdade
que deixava esquecida...
vou contar-te um segredo:
pssss...o sonho comanda a vida!


Cláudia Ferreira
05/02/2010

domingo, 31 de janeiro de 2010

REFLEXÃO





Debruço-me sobre mim
aconchegada
por este lençol enrodilhado
reflexo de um corpo cansado
das acrobacias da lenda pessoal
imperadora de aventuras entre os atalhos
de esperança traçados com pulso de fé
adornado pela pureza de uma rosa branca
que perfuma a mulher
com alma de criança.
Aliso o pano da tela que me revela
o imaginário colectivo
onde tropeço em palavras soltas,
sentimentos vazios,
projectos de vida inacabados
por seres em série fabricados
perdidos na estrada da fraqueza emocional
tomando percursos do reino material
esquecidos de sorrisos iluminados
escondidos no fato sem talho
dos sucessos inanimados
na glória da inocência anulada
pela hipocrisia mundana
da infelicidade calada.
Recolho a tela pois sei
que não me encontro nela
o meu ser está consagrado
a um caminho ladrilhado
pela sabedoria dos corações que falam
eles que se sabendo ignorados
gritam o que os homens
calam por medo de sentir,
aterrorizados
pela voz interior que os convida
a descobrir o universo que inquieto
lhes abre os braços e oferece tintas
das cores da essência humana
para que possam ser pintados
os mais belos quadros da vida
estradas de harmonia de inércia despidas,
aceito o desafio de colorir o meu destino
mas quero perder o receio e a hesitação
páro, escuto, penso...
ajeito-me determinada no véu da
reflexão...

Cláudia Ferreira
01/02/2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

As páginas onde te lês/Parabéns Cláudia






Cuidadosamente abres o livro
de uma vida a desabrochar
ensaias as palavras que denunciem
o teu viver
o teu olhar.

O vermelho com que vestes
o teu corpo
não e só da dor
que teimosamente
tentas decifrar
é o perfume de um amor
prestes
a nascer
numa alma a desabrochar

Não te percas
nesse livro de tristeza
e solidão
procura
na linguagem do tempo
as palavras que te afaguem
nas noites de solidão.

As paginas onde te lês
são de dor
de procura
traços desenhados
a cor preto
como a saudade
que guardas no peito
sentimentos escondidos
nas quimeras
que não crês.


Desabrocha a rosa rubra
que no teu coração plantas-te
rega-a com palavras de esperança
desfolha de novo o livro
com olhar renovado
de criança.


São Gonçalves
25/01/2010





Queria escrever com letras coloridas
as mais belas palavras de uma amizade
queria encher para si um cálice de felicidade
desenhar estrelas no caminho da vida
de quem me devolveu um sorriso esquecido
que com letras brotadas de uma alma genuína
me permitiu sonhar e ser de novo uma menina
queria erguer um palácio de emoções belas
espelhar o que sinto em traços de aguarelas
mas como sou apenas uma simples mortal
exprimo-me deixando falar o meu coração
nele esta gravado com ternura:
OBRIGADA SÃO!***

Claudia Ferreira
26/01/2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

ANJO NA TERRA




Tu que me observas com a alma
diz-me quem sou sem me saber
retrata-me à sombra da tua luz
desencontrei-me tanto da vida
por vezes lembro-me esquecida
em farrapos de lucidez vejo
uma mulher que se esconde
mas que se procura sem saber onde
quem sou?...
Nunca te esqueças que és
um anjo nesta terra imunda
nunca te esqueças que és
uma alma pura numa mulher linda
nunca deixes que alguns montes de lixo
a quem dão o nome de gente
seres vazios, sem emoção
nem qualquer tipo de percepção
te magoem, te façam sofrer
usem a tua bondade e
o teu coração cheio de pureza
por favor não deixes
que cheguem perto de ti
são sujidade, malvadez, crueldade
nunca te esqueças da tua essência translúcida
que apaga qualquer dor e
pode ensinar a esses vermes
o que é a palavra amor
nunca te esqueças que são seres contaminados
pelo interesse, cobiça, inveja,
traição, dinheiro, poder, submissão,
mentira, altivez e sem coração
nunca te esqueças o quanto és
diferente deles e especial
eles não passam de um fato de carne
de algo material nunca poderão compreender
alguém sensível, pura, verdadeira e leal
não te esqueças que está na hora
de dizeres não a tanta representação
esquece algumas coisas a quem chamam pessoas
chega de tristeza e aflição
não permitas que te façam derramar
nem mais uma lágrima por favor
isso provoca-me tanta dor
começa do zero e escolhe de entre esta multidão
alguém a quem se possa chamar pessoa
seres humanos sem enganos
sei que ainda existem
mas não sei onde para te dizer
sei apenas que tu conseguirás saber
e encontrar, aqui, na rua,
no trabalho ou em qualquer lugar
basta o teu olhar atento e limpo
e vais adivinhar
tu que vês a alma e o coração
de todos sem ilusão
vês os seus defeitos e mesmo assim
aceitas que te chamem de amiga ou amor
quando apenas te querem provocar dor
nunca te esqueça que não és mais alguém entre tantos
não, tu és especial, um ser doce e emocional, puro e real
UM ANJO NA TERRA
...nunca te esqueças...


Cláudia Ferreira / Anónimo
23/01/2010

SE AS TUAS MÃOS CHEGASSEM...


Se as tuas mãos chegassem agora
eu seria a menina que
se abandona nos teus braços
e sonha constelações de estrelas
envolta num rasgo de paixão
encerrado pela distância de um refrão
que condenou a tua ausência
e grita a solidão para que a ti alcance
o ritmo do meu coração.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
que ventos cantariam
o brilho do meu olhar?
Que ondas acalmariam
o meu desejo de sonhar?
Rasgos de embriaguez emocional
tomariam a razão
no leito de dois corpos
que cansados de se perderem de si
rendem-se sem hesitação.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
seria escrita a mais bela história de amor
onde o tempo e a ausência
não rezam a glória
de nos limitarem à dor
pois o meus dedos recusam
vestir as luvas do desespero
decalcam o teu rasto de retorno
num enlace sem demora pois
sinto-te, sei-te e quero-te
junto a mim, nós, sem demora.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
que violinos tocariam
a melodia da minha alma?
Que raios de sol iluminariam
o meu sorriso deslumbrado?
Fecho os olhos e escuto
no estremecer da noite que cai
os teus passos de regresso
com sapatos de veludo
o regresso de quem nunca vai.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
serias um prolongamento de mim
delírio coberto pela delicadeza do cetim
que envolve a pureza de um gesto
ao esconder uma lágrima de emoção
pois regresso desse lugar encantado
fito o horizonte em vão e
recolho-me a mim nessa hora
pois divaguei por saber
...que as tuas mãos não chegam agora...



Cláudia Ferreira
22/01/2010

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

LUZES


Entre a multidão caminho
procurando um porquê ou um senão
escuto-te em cada riso de criança deslumbrada
revejo-te na arte de cada vitrine decorada.
Luzes brilhantes e efusivas
ofuscam meu olhar disperso
cores vibrantes gritam palavras de alento
a quem se distancia do universo.
Ruas que são encruzilhadas
pessoas sisudas, indiferentes
sem alma e que se dizem contentes
sorrisos forçados que retratam
quadros de vidas sem precedentes.
Sei que choras comigo
em cada gota de chuva
que refresca o meu rosto
que me desperta e alerta
para o labirinto que desenhamos
na busca de nós
nessa ansiedade incontrolada
resultante da vontade disfarçada.
Chamas-me em cada melodia
que inunda as ruas
espero escutar o que procuro saber
ser tumultuado por questões sem retorno
por respostas encenadas
abraçada ao vazio
pinto a alma de cores
numa tentativa desajustada
de recuperar o nada.
Sei que algures nos encontramos
não carecemos de tempo
e espaço definidos
leveza do ser que voas sem receio
pelas incógnitas que traduzes
o nosso tratado de esperança
que escreves nas luzes...


Cláudia Ferreira
23/12/2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

APRENDI






Aprendi que as palavras leva-as o vento
ao invés dos gestos, eterniza-os o tempo
que é no mais puro e tão absoluto silêncio
que se gritam sentimentos de dor e amor
se escutam os corações que não se calam
brilham almas translúcidas que assim falam.
***
Aprendi que por detrás de um sorriso lindo
é onde se escondem as verdadeiras lágrimas
essas que teimam em brotar do inconsciente
que não quer nem sabe disfarçar aquilo que deseja,
sonha, sofre, anseia, grita, sente...
que o Homem teima em não perceber facilmente.
***
Aprendi que o tempo é um amigo precioso
ou por outro lado um inimigo tenebroso
que fecha feridas mas não dissimula cicatrizes
que se sobrepõe à página que queremos virar
que nos ilude de esperança e nos tira o medo
mas que não mostra se já é tarde ou ainda cedo.
***
Aprendi a confiar no desconhecido e no absurdo
a desconfiar do que é conhecido, lógico e visível
da mão que se estende depressa mas que não se vê
da promessa que nunca se cumpriu, um gesto vazio
as palavras doces que trazem tanto veneno consigo
que não conhecem limites e não nos dão abrigo.
***
Aprendi a urgência de saber aprender a viver
de enfrentar os obstáculos com mais serenidade
não cruzar os braços perante toda a adversidade
valorizar o esforço e a luta de quem ama a vida
e que sem recompensa, segura aquela mão perdida
com um sorriso de criança que aprendi a não perder
pois é tempo de perceber que...
...tenho tanto para aprender!


Cláudia Ferreira

20/12/2009

DILACERANTE




O meu suspiro ecoa no vazio do meu querer
na luz apagada de uma floresta cerrada
que a minha mente percorre na procura do nada
que encerra o todo esbatido pelas agruras
de um sorriso esquecido.
Grito surdo, ser imóvel, palavra apagada,
pensamento que voa sem chegar a destino algum,
sonho estilhaçado pelo teu silêncio ensurdecedor
presença marcada pela tua chegada à distância da dor..
Suspiro que traduz palavras por inventar,
cores por descobrir, portas por abrir,
caminhos que podem existir...
Mergulho sem mar nesta ausência tão presente,
papel rasgado pelo vento, pintura desvanecida pela chuva,
momento que se
prolonga para além do tempo,
que sobrevive dos instantes de outrora,
perdidos da razão,
enlouquecidos pela paixão, enegrecidos pela mão
que agarra o vazio e se segura em vão.
A eternidade é curta para quem sente desenfreadamente,
uma vida é pouco para te amar demais...
Saudade que dói sem se saber aterradora,
perdição do ser de nostalgia nutrido,
punhal afiado de lágrimas reconfortado,
alma sofrida pela adversidade concebida...
Trespassa-me saudade atroz
pois apenas escuto essa tua voz
que me conduz de olhos vendados
a esse lugar desconcertante
onde desnuda de esperança te revelas
...DILACERANTE!


Claudia Ferreira
19/12/2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ANJO NEGRO




Escondida de mim
nesse lugar distante e sombrio
onde o sol não aquece o coração
que se esquece da sua função,
nesse lugar de onde me omito
de viver na multidão perdida
na lentidão de um momento que se arrasta,
presa a um olhar de solidão que devasta,
eis que escuto o eco de uma alma
que voa arrastando uma poção
de luz escondida
nas asas negras esbatida,
um anjo que se esconde
na sombra do seu esplendor
temendo que as suas asas possam tocar amor,
cai uma pena que agarro
e olho aquela imagem imortalizada
perplexa vejo que viajo
no rochedo sem medo,
agarro essa asa que se estende
e desarmada deixo-me guiar
pela magia que me prende,
fecho os olhos e deixo que me leve
no sobressalto de um voo no escuro
na paz de uma nuvem breve,
eis que sinto que ainda sou
quem já julgava ter escondido
raio de ternura me desperta
trespassa-me voz incerta
que escuto como violinos,
anjo negro tu não és,
pois encerras em ti o arco-íris
de cores tão luminosas, harmoniosas,
reflexos que cantam hinos...



Cláudia Ferreira
04/12/2009

SAUDADE DE MIM


Saudade de mim,
quero saber onde fiquei
onde me esqueci
que ainda existo e desisto
nesse lugar distante,
tão frio e sombrio
onde não consigo sentir o sangue aquecer
onde me abandono
e apenas quero esquecer.
Quero sentir um fremito pleno de paixão
que me faça sentir a minha existência ausente
que perturbe a minha prudência,
me aqueça o coração
sem medo que paraliza
e receio que não concretiza
sentir esse abraço forte
que protege e me diz calor
um olhar que toca com carinho,
um gesto que dá amor.
Saudade de mim,
de sentir que estou viva e quero viver
de acariciar a minha alma
com a seda macia dos sonhos
esse odor de rosas delicadas
que me preenche a pele
um raio de sol quente
que me desperta e acalenta
o ser disperso pela solidão
e ausência de quem sou
que venha essa melodia doce
que desperta o meu ser.
Saudade de mim,
aquela que desconhece a amargura
que sempre se preservou dos seres imundos e é pura
que acredita em contos de fadas,
em amores avassaladores
que sabe e sente com a intuição,
pinta os sentimentos de cores
se senta à beira-mar
e olha o longínquo horizonte
e o vê tão perto
com a pureza de um anjo
que distribui verdade que perdura e
...acredita no valor de uma jura!


Cláudia Ferreira

QUANDO


Quando todas as portas se fecham
e todas as luzes se apagam
percebo que todas as mãos se retraiem
que somos aquilo que temos
que os olhares materialistas
de almas capitalistas
e vidas de ostentação
apenas conhecem e apreciam esta razão
e desconhecem o valor
de um ser ou de um coração.
Quando sinto este vazio enorme
que me atormenta e me consome
percebo que nunca tive amigos
percebo que tudo tem um preço
que se compram e vendem afectos
e se adquirem titulos no banco des favores
são estas pessoas despojadas de valores
perante quem todos se curvam
e enaltecem os seus louvores.
Como fico angustiada
ao perceber esta nua verdade
ao perceber que nas relações humanas
tudo é farsa, nada é realidade
todos se movem sem sinceridade
neste jogo de avidez e poder
onde se pisam os trilhos da ganância
luxúria, cobiça e malvadez
e se usam os que são seres humanos
como peças de um grande jogo de xadrez.
Sinto-me só neste mundo
que vejo com os meus próprios olhos
onde procuro e não encontro
os valores que tanto cultivei
aos quais sempre serei fiel
e que nem mesmo perante a dor
que me assola os sentidos e
me rouba momentos vividos
não me permito viver num mundo
onde todos dizem palavras em vão
inventam sentimentos e usam-nos
por egocentrismo e pura diversão.
Sinto esta tristeza tão grande
que so sente quem é realmente gente
este aperto no peito que esconde
um coração desenganado e ferido
estas lágrimas que teimam em rolar
destes olhos cansados de tentar ver
alguém que ainda saiba o que é sentir
que ainda acredite na amizade pura
ou no amor sincero que perdura
para além dos interesses e dos egos
e que sabe que ele é a razão
de uma existência humana
que sem ele os barões da frieza
podem conseguir o mundo inteiro
mas nunca terão a alegria de experenciar
esta que é sem qualquer dúvida
a mais bela, nobre e verdadeira riqueza!
Para essas criaturas olho e não sinto raiva
não, não sinto ódio, apenas sinto tristeza...



Cláudia Ferreira

ESCREVO


Escrevo...
para falar
sobre o que não posso dizer,
escrevo...
para lembrar
o que jamais poderei esquecer.
Escrevo...
e apago
palavras em vão
onde tento sem sucesso
aliviar a dor de um coração.
Escrevo...
o que era ou ainda sou
o que sinto e o que penso
aquilo que grito
e quero calar
e que nunca se ausentou.
Escrevo ...
na tentativa
de me encontrar
ou então de me perder
mas sinto que o faço
para ter razão de viver.
Escrevo...
sobre sentimentos
onde a esperança
e o desalento se saudam
numa incessante procura
de entender as realidades
que mudam.
Escrevo...
palavras que apago
numa tentativa desesperada
de calar a dor, rasgar a solidão
resgatar a amizade e o amor.
Escrevo...
porque a angústia
não cala o que a alma fala
porque o silêncio não se quebra
porque a alegria não se celebra.
Escrevo...
nas busca de reencontrar
a paz tão ausente
a fé de quem é crente
a voz que desejo escutar
o gesto que sonho ver
algo que me possa amparar.
Escrevo...
sem escrever
aquilo que sonho dizer
sem perceber onde procurar
aquilo que se pode encontrar
para não permitir
que uma lágrima caia
que um sorriso se apague
que um olhar triste
se distraia
por isso...escrevo!


Cláudia Ferreira

ESPERA


Espera por mim felicidade,
peço-te que me aguardes,
não permitas que fique submersa
nesta tristeza cruel
onde apenas a dor me é fiel.
Espera por mim felicidade,
quero viver de verdade
não uma vida de ilusão,
onde os dias passam em vão
onde espero sem esperar,
que me venhas resgatar.
Espera por mim felicidade,
quero alcançar esse lugar
onde o sofrimento se dissipa,
pois ainda se acredita
que o mundo tem cor,
que que os dias não são vazios
e os sentimentos tem valor
onde se conhece amor,
amizade e solidariedade
não desistas de mim felicidade,
sei que tudo tem um principio
e um fim
por isso luto para te alcançar,
como uma criança que acredita
que existe um lugar
onde se pode voar,
onde se sente alegria e harmonia
se sorri e se vive cada dia
com a certeza que a tristeza
não pode alcançar
a quem a ela tenta resistir
e tenta descobrir o sopro
que te traz de volta para ficar
Espera por mim felicidade,
o que mais quero no mundo
é poder abraçar-te!
ESPERA...
pois não quero mais esperar!

Cláudia Ferreira

CANSADA


Cansada do tempo
que avança
e me deixa parada
sem que possa sair
deste lugar
onde me condenou
a ficar estagnada.
Cansada de acreditar
no que me ilude
e desilude
nas promessas em vão
onde nada é verdade
e o que resta é solidão.
Cansada de tentar entender
o que todos fingem perceber
e que na realidade
nem conseguem ver.
Cansada de palavras em vão
de mentiras crueis
que aguardam
sempre o meu perdão
que me rasgam por dentro,
que me roubam o momento
e apenas soltam o eco
de um não.
Cansada de ser tolerante
perante a falsidade constante
que finjo não perceber
e choro por entender.
Cansada de não ver gestos
apenas hipocrisia
e adversidade
embaixadores da crueldade,
perversidade, insensatez
e ausencia de verdade.
Cansada de uma caminhada
onde não ha estrada
nem luz
onde caminho sozinha
e carrego
a minha cruz
Cansada de esconder
o que sinto
o que penso
e o que vivo
ou o que sinto e não vivo
o que vivo na ilusão
de um dia ser verdade
de existir
uma pura realidade
onde vou poder sair
de onde me escondi
dentro de mim.
Cansada de esperar
e esperar
sem me cansar...



Cláudia Ferreira

SOU


Sou tudo o que tenho
tudo aquilo que restou
de uma tempestade terrível
que tanto tempo me assombrou.
Sou tudo o que tenho
ou que não tenho e não sou
uma folha de linhas inacabadas
um diário onde se apagam entradas
uma lágrima que teima em correr
num rosto que espelha uma alma
de um ser cansado de sofrer.
Sou tudo o que tenho
de uma vida de procura incessante
de um sorriso luminoso
de um abraço caloroso
de uma mão que se estende
de um ser que compreende
palavras que ainda estão por inventar
actos, momentos, vivâncias
que exitam em desabrochar.
Sou tudo o que tenho
pois nada mais restou
desta caminhada solitária
numa encruzilhada arbitrária
que sempre me torturou.
Sou tudo o que tenho
que a dor não arrebatou
sou uma folha rasgada
uma casa desabitada
uma praia selvagem
uma brisa, uma aragem
que chega sem chegar
que sopra para tocar
aquilo que os dedos não alcançam
nem os sentidos descobrem
algo que aguardo sem saber
se consigo percorrer
os degraus que se mostram e escondem.
Sou tudo o que tenho
e que tenho de aprender a amar
sei que sou o meu tesouro
o meu baú preenchido de ouro
que ao enxugar as lágrimas
tenho de buscar, compreender
pois so no dia que o conseguir
sei que estarei de novo a viver!



Cláudia Ferreira

ENGANOS







Enganos tamanhos
que me fazem crer
que numa floresta sombria
ainda pode existir alegria.
Enganos crueis
onde chego a duvidar
se é melhor viver e acreditar
na ilusão de um engano
ou na realidade que faz chorar.
Enganos recheados de luz
que deixaram acreditar
que nas trevas e na escuridão
é possivel ainda
ver o sol brilhar.
Enganos que magoam
cheios de armadilhas
onde com rostos alegres
e palavras de cores
tatuam em mim fortes dores.
Enganos de quem neles vive
e obriga a viver
quem ainda acredita
na pura essencia de um ser.
Enganos carregados de fé
e mascarados de esperaça
que incutem em mim
a credibilidade de mudança.
Enganos que me abraçam
com braços fortes e ardilosos
dos quais me tento soltar
por sabe-los tão perigosos.
Enganos que perduram
no coração de quem é vitima
da boa vontade de confiar
na certeza de quem apenas
quer com frieza torturar.
Enganos que amarram a vida
de quem cai na sua teia
se enlaça sem perceber
numa realidade tão feia.
Enganos feitos de sonhos
de arco-iris decorados
que encerram sombras temiveis
de seres contaminados.
Enganos que não sabem nada
onde os sem caracter se escondem
seres vazios e engenhosos
que espalham angustia
sempre que podem.
Enganos que vejo e sinto
perdida neste labirinto
de espelhos sem reflexo
do enganador cheio de arte
que a si proprio deixa perplexo.
Enganos que quero desvendar
abrir o véu que os esconde
para o poder rasgar
para que a pureza retome
a plenitude do seu lugar.
Enganos que um dia
se desmoronam
sem que a torre de frieza
os possa apoiar
pois quem vive da dor que provoca
não pode estender a mão
e o seu grito sera em vão!

Cláudia Ferreira

MOMENTOS


Momentos onde vejo a presença
de uma tristeza que me rouba a inocência
me transporta numa caminhada dura
que me assombra e que perdura.
Momentos que assolam a minha alma
me roubam a serenidade
e destroem a calma
sem certezas nem sonhos
apenas tormentos e enganos.
Momentos que quero esquecer
apagar e nunca mais os vivenciar
apenas pensar que esse dia vai chegar
esse dia de encantos
onde perdem lugar os prantos
onde chega a alegria
e uma suave melodia
que me enche os sentidos
e devolve a alegria.
Momentos que serão sempre uma presença
um lugar seguro
onde poderei viver com confiança
sem medos nem receios
onde viverá eternamente a esperança.
Momentos de instantes construidos
sem lugar para a incerteza
onde habita a verdade, a pureza
onde sorrio o sorriso que irei resgatar
que ficou perdido em algum lugar
onde a dor manchou a felicidade
sem me pedir perdão
assumindo a crueldade.
Momentos onde me busco
onde escuto o meu eco de desalento
onde me procuro e não me encontro
neste labirinto obscuro e solitário
sem perceber como encontrar um atalho.
Momentos que são instantes decisivos
onde tudo e nada se cruzam
sem piedade deste coração de que abusam
sem pedirem para ficar
e teimarem em abandonar
quem espera uma brisa suave
uma música doce que apague
uma dor que arde e queima
que me devora e ignora
que luto para a destruir
que sei que vou conseguir
esse instante que vai chegar de rompante
e tomar de assalto quem me escondeu
quem camuflou o meu EU
que permanece adormecido
à espera de ser devolvido.
Momentos onde a vida revela
toda e qualquer lei que nela impera
onde mostra que me aguarda ansiosa
por me libertar desta inercia tenebrosa
onde mergulhei e não regressei
num remoinho de desilusões
que pedem para cessar, pois sabem
que necessito voltar.
Momentos que me aguardam
cheios de fé e de esperança
de que me encontre e me resgate
recupere e renasça
como quem olha o mundo pela primeira vez
sem carregar o passado e com plena lucidez
que a vida me estende a mão
e eu a seguro com força
a força de quem quer agarrar o mundo
caminhar seguro e atento
sei que chegou o momento...

Cláudia Ferreira

MENTIRA


Mentira perfida e cruel
que chegaste com palavras
doces como mel.
Mentira com nome e com rosto
que so provoca desgosto
e se alimenta da tristeza
de quem atormenta.
Mentira que perdura
com promessas e jura
que envolve e ilude
que destroi e constroi
usando um coração puro
da forma mais rude.
Mentira que vejo e sinto
que acreditei e confiei
à qual entreguei a minha vida
sem saber que nessas mãos
me encontraria traida.
Mentira que devasta
a minha alma de criança
que sempre alimentou
a esperança
que fez sonhar e sorrir
pelo puro prazer de destruir.
Mentira que vives de engenhos
tramas e esquemas
que sustentas com aquilo
que inventas
que sorris ao ver sofrer
e te felicitas por fazer doer.
Mentira que acreditei
sem questionar ou duvidar
que devagar ocupaste
o teu lugar.
Mentira que rasga
quem em ti confiou
quem contigo fez planos
que com o teu coração sonhou.
Mentira que me roubaste
quem era e quem sou
que impera sobre a pureza
que nunca levantou incerteza.
Mentira que me truxeste luz
que me atira por terra
me faz sentir sem vida
me destroça e consome
que tem rosto e tem nome!

Cláudia Ferreira

UM DIA...


Um dia...

que aguardo ansiosa
esse dia que trará a vida prodigiosa
onde tudo sera tão delicado
como o suave perfume de uma rosa.
Esse dia enxugará as lágrimas
trará o sorriso perdido no escuro
entrara de rompante no obscuro
para dele me libertar para sempre
mostrando-me a luz permanente.
Quando desespero de angústia e dor
quando percebo que ja não existe amor
luto para acreditar nesse dia que chega
que vem para ficar,
nunca mais me abandonar
entregue ao tormento e ao desalento
à solidão e ao sofrimento perverso
que tumulta a minha existência de ardor.
Que chegue esse dia de mudança
na plenitude da luz e da esperança
aguardo-o como se não tivesse ido
ao túnel escuro de quem vive de dor
abre o coração e não recebe a invasão
da alegria contagiante e plena
da serenidade perfeita e real
que me torna imune à crueldade do mal.
Quando esse dia chegar estarei aqui
para mostrar ao mundo que resisti
que guardo o que de melhor existe em mim
que o tempo não me apagou, não
que continuo cheia de sonhos e razão
que vou deixar sentimentos desabrochar
e tudo o que mais anseio vou concretizar
...um dia!

Cláudia Ferreira

MUNDO




Como é complicado entender
este mundo tão desordenado
sem condutas morais e razão
sem lugar para a sensibilidade
ou o simples abrir de uma mão.
Que mundo alheio e avesso
a tudo o que nele acontece
onde quem dita as condutas
são os interesses pessoas
num jogo desenfreado de rivais.
Que mundo complexo e amargo
onde tento encontrar um caminho
que possa percorrer e entender
pois ja nem mesmo sei quem sou
não entendo o que se dispersou.
Mundo que me envolves
numa teia de interrogações
onde as certezas não têm lugar
pois a cada instante as fazes apagar.
Mundo imenso e tão completo
reflecto de enigmas que tento desvendar
labirintos e rodopios que fazem questionar
qual o meu papel neste palco imenso
onde cada dia é um recomeço, um inicio
uma esperança de virar tudo do avesso
ou de a vida me mostrar qual o meu
respectivo papel neste conturbado lugar!

Cláudia Ferreira

DISSESTE...



Disseste ADEUS...
como quem diz cheguei,
voltei, estou aqui outra vez
com uma felicidade notória
que pensei não ser real
com a leveza de quem sempre usou
palavras em vão
de quem sempre magoou
para para ter o meu perdão.
***
Disseste ADEUS ...
de uma forma poderosa
com gestos e mimos cor-de-rosa
para esconder o que querias
realmente gritar para mim
algo que nunca tiveste a coragem
de dizer nem de ver
mas que eu tive a subtileza
de deduzir e entender.
***
Disseste ADEUS...
pois eu digo-te que estou aqui
para te estender a mão
pois apesar de seres inatingível
deduzo que tenhas coração
e que ele um dia ficará
de costas para ti porque não pode falar
porque por mais que tente
não o escutas nem te deixas ensinar.
***
Disseste ADEUS...
com a dureza de quem tranca
uma porta para se esconder
com a incoerência de quem diz adorar
mas que prefere pisar
cerrando um caminho, apagando uma luz,
ditando uma cruz
com um sangue que corre nas veias gelado
e não se permite aquecer.
***
Disseste ADEUS...
pois eu digo-te até sempre,
eu deixo sempre falar o meu coração
conheço palavras como carinho,
amizade, empatia e solidariedade
pois no meu mundo não é poderoso
quem age com altivez
não tem qualquer valor
a crueldade e a insensatez.
Não se brinca com vidas e se abrem as feridas...
Não se fecha uma mão!

Cláudia Ferreira