terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

NÃO SEI...NEM SEI SE O SABEREI...



O dia camufla a tua ausência
mas a noite é cruel e rega
as raízes da minha saudade de nós,
o silêncio convida ao eco do nosso riso
de alegria que preenchia e embelezava
o meu coração de cristal brilhante
que irradiava luzes da cor do carinho,
calor, paixão, amor, devoção...
Éramos nós...
Sem tempo nem lugar, sem limites para sonhar,
asas soltas para voar no céu
bem alto de quem cruza o horizonte
dos sentidos deslumbrados,
palavras bebidas pelos lábios que se tocam
e falam dialectos secretos,
corpos que tremem ruborizados pela
inocente timidez de se saberem desejados,
somos meninos sentados num banco de jardim
de mãos dadas com a pureza desse sentimento
que é tão nosso, nascido à revelia do pensamento
sem perguntar se podia ficar
se o podiamos guardar tatuado na alma,
imponente, corajoso, forte, poderoso, avassalador,
mar agitado que se viu incontrolado,
a adversidade desencadeou a tempestade,
as ondas afogaram o destino,
as nuvens choraram o nosso desgosto,
o vento soprou raivoso sobre aqueles
que moveram a terra para apartar os nossos caminhos,
o fogo chicoteou com labaredas os dedos perversos
de quem nos fechou a porta da felicidade,
o universo ficou magoado ao ver-nos
separados pelas garras da águia da inveja,
da cobiça, da intriga, da mentira, da perversidade,
que frustrada liberta a sua ira sobre nós
traçando um eu sem ti..., um tu sem mim...
Suplico ao mundo para te devolver...
Onde estás? O que sentes?
Não sei...nem sei se o saberei...
Mas sei onde estou e o que sinto...
Estou aqui, pisando este soalho
construído pelos destroços
daquele coração de cristal
que caiu no chão e se partiu,
todos os dias encontro um pedaço
e guardo-os um a um na gaveta da dor
de um desgosto de amor,
existo sem viver, este aperto no peito
solta uma lágrima, vontade sem querer perguntar
nem responder, um tudo cheio de nada,
multidão fechada na mão que aguarda
a minha voz calada que grita estilhaçada:
VOLTA!!!
Como é a tua vida sem nós?
Não sei...Nem sei se algum dia o saberei...



Cláudia Ferreira
09/02/2010

2 comentários:

  1. "corpos que tremem ruborizados pela
    inocente timidez de se saberem desejados,
    somos meninos sentados num banco de jardim
    de mãos dadas com a pureza desse sentimento
    que é tão nosso, nascido à revelia do pensamento
    sem perguntar se podia ficar"

    Queria quase transcrever o poema todo , pois é maravilhoso ... mas vou ficar por este pedaço encantador e muito sentido ..
    Linda , adoro-te .

    ResponderEliminar
  2. nunca saberás o que é impossível saber, o que apenas existe na tua solidão, um destino ateu, numa religião inventada por vós, sem crentes, apenas memórias ausentes, de sentimentos permanentes...
    um texto fantástico, mas que descreve sentimentos que precisam ser ultrapasados.. congelados no Tempo...

    ResponderEliminar