sábado, 6 de março de 2010

POR FAVOR...




És a verdade dos que te negam,
rezam-te como oração decorada
numa bíblia editada pelos crentes
da virtude suja e manchada
pelos sorrisos cinzentos sem alma,
pelas mãos que subtraem oferendas,
rosto de pó de cinza maquilhado
com corantes de ilusão,
palavra escrita com tinta sangrenta,
pano de chão já rasgado e cansado
de limpar as pegadas de quem te sustenta.
És estrada de nevoeiro vermelho
que rasga a alma de quem a percorre,
bosque de mato espinhoso
repleto de armadilhas engenhosas,
beco deserto sem sinal de trânsito
ladrilhado por gargalhadas estridentes
de juízos errados gravados nas mentes,
adjectivação incoerente e desastrosa
citada por voz doce e melodiosa,
substantivo contornado por sinónimos
melindrosos, que te escondem a identidade,
persuasão falsa que se quer tão perigosa.
Eu grito-te guerra em todas as frentes,
indução em erro, ficção, falsidade,
dizem-te afirmação contrária à verdade,
eu conheço o teu nome induzido em erro,
presente na rotina da multidão que
talhou de basalto um negro coração,
estou exausta de fingir que não te vejo,
extenuada de ser arbitrária ao teu desejo,
és demolição do edifício da paz interior
que te decifra sabendo-te de cor,
serás banida, punida, varrida
com a vassoura da indignação,
por favor... vai-te embora
da tua religião não sou oradora,
quero sentir a paz de quem bebe
a razão, com firmeza sentida
declaro morte à mentira
mesmo que isso implique a
minha solidão...

Cláudia Ferreira
05/03/2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

DESPIDA DE MIM


Abandonei-me sem retorno a mim,
o que fui segredei ao vento,
o abrigo a quem confiei
o tesouro humano que era
para que o possa com justiça entregar
a quem por ele tanto espera.
Leva o meu sorriso de felicidade acreditado
ele pode iluminar o rosto
de quem conheceu o desgosto,
enxugando as lágrimas dos que
nada aguardam da vida, conta-lhes
que tomei o seu lugar,
não precisam mais chorar,
eu guardo as suas dores
para que se possam resgatar.
Leva as minhas mãos aos doentes,
acarinha-os com a minha fé,
nos meus dedos está uma farmácia
de virtude de quem com um
toque de pureza alivia o tormento
e ordena ao corpo que se regenere
e se vista de saúde.
Leva o meu olhar brilhante
às crianças dos quatro cantos do mundo
que perderam a infância
roubada pelas calamidades,
agora podem sonhar de novo
com um mundo que criarão
onde a cor e a alegria
matam a escuridão,
diz-lhes que em cada uma delas
deposito toda a minha esperança
como quem rega a mais bela flor
sei que vão crescer a acreditar
na importância do amor.
Leva a minha força às searas de trigo
para que cresçam milagrosamente
transformando-se nos mais saciantes pães,
distribui um por um como exterminadores
da fome ao que reza por uma migalha
e há dias que não come.
Leva o meu coração e sopra-o
por todos os Homens,
deixa que se contagiem
com a beleza do perdão,
com a nobreza dos sentimentos
pois assim a sua passagem por aqui
jamais terá sido em vão.
O que restar do que te entreguei,
transforma em brisa perfumada
a cada entardecer,
sabes que me despi de mim
para criar um lugar de bem aventurados,
agora vai...
eu fico aninhada na minha alma
não esqueças os meus recados...

Cláudia Ferreira
05/03/2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

PRISIONEIRA


Entrei silenciosamente no espectáculo
que havia começado,
uma história interminável no tempo
e no espaço, da qual ninguém
conhece o princípio ou o fim,
existia um lugar vazio e recatado que ocupei,
fui olhando à minha volta cada gesto,
rosto, cor ou som, o barulho era muito...
figuras agitadas que buscavam uma qualquer coisa,
as palavras eram soltas e eu subentendi
que havia chegado sem saber ao palco da vida,
esse elenco destemido que é passagem obrigatória
que a quermesse do mundo oferece sem aquisição
empurra-nos até os pés tocarem o chão.
Eis que me vejo perante a condição humana,
vasculho nos rascunhos do karma algum ensinamento
para poder dar um primeiro passo determinado,
mas a bagagem do nascimento vem vazia de manual,
com ouvido mais apurado escuto um murmúrio lá dentro:
tens alma e coração, corpo e pensamento,
és matéria e espírito, conjuga a sua convivência,
inspira cada detalhe da tua nova casa,
programa os cinco sentidos de que vens dotada,
a razão da tua existência busca-la em tudo e todos,
afinal aguarda-te a imensidão de seres pessoa
entre os demais que algures como tu pensavam estar à toa.
A descoberta convida-me trajada de liberdade destemida,
que lugar bonito e completo, tudo aqui é tão perfeito
que apetece tocar cada objecto, respirar cada essência,
escorregar pela harpa que embala a lua e o sol,
é um paraíso de felicidade pintado por uma mão de criador,
sinto-me levitar a cada sorriso,
quero falar com quem me cruzo,
a voz é um instrumento musical que
compõe sinfonias chamadas frases,
a luz e o escuro alternam acontecimentos
que são medidos utilizando a gíria de novo ou velho...
que vão ditando o crescimento do ser no seu todo,
sem compasso de espera
que interrompa um sonho ou uma quimera,
nem me dei conta e já faço parte do quadro...mas
agora que o vejo a primeira vez...parece-me imperfeito,
creio que me deparo com uma contrariedade a qual
baptizo de boa vontade e estarrecida dou-me conta
que é esse detalhe que se esqueceram de emoldurar,
o deslumbramento deu lugar à apreensão...
Então os sentimentos? São fechados num porão?
Em que segredo temível toquei pois de imediato
se erguem muros em meu redor, de pedras enfurecidas
de maldade enegrecidas, a minha sensibilidade
está subjacente à condenação,
que intrometida me proclama diferente,
vota-me à solidão, pelas masmorras da tristeza
lanço um olhar pela multidão, rezo pela epidemia
da amizade pura, cumplicidade sem restrições,
empatia generosa, solidariedade sem imposições...
acredito que se propagarão com uma pureza sem fim,
até esse instante sou...prisioneira de mim...


Cláudia Ferreira
23/02/2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CHOVE...



O céu escurece e veste-se de negro,
as nuvens compadecidas com a minha dor
choram compulsivamente e juntam
as suas lágrimas às minhas para que
ninguém perceba que as gotas que
rolam no meu rosto não são água
mas sim mágoa,
o sol refugiou-se lastimando
a minha sorte fragmentada por
um qualquer temporal de assombros,
por um raio solto que deitou por terra
uma árvore transformada em obstáculo
intransponível, gigante Adamastor
que me assusta e perturba a serenidade
do meu mar forçando-me a fraquejar
tomada pelo pânico dos acontecimentos,
Cabo das Tormentas do meu eu
imponente perante a nau frágil em
que me transformei, de mastro rasgado
pelos dissabores, de casco lascado
pelas ondas da desilusão de quem um dia
foi mestre do destino e o deixou naufragar,
afundou-se a minha tripulação de esperança,
acordei deste naufrágio parecendo que
a vida foi não mais que uma lembrança.
Chove torrencialmente sem cessar
consequência do meu ser que soluça
revoltado por um sim mascarado de flor,
por um bosque encantado que alguém esboçou
enganosamente num qualquer
papel de cenário rasgado,
sorrisos que escondiam intenções tenebrosas
com dentes de vampiro afiados para sugar
até à última gota a felicidade que incomodava,
a serenidade foi trespassada por mãos
acolhedoras de lâminas afiadas portadoras,
tudo era um vazio preenchido de infinito,

criaturas que se vestem de persuasão
são laços de veludo negro sem coração
que amarraram tudo o que brilhava em mim
corroídas pela inveja que se revelou num trovão.
Saio à rua de pluviosidade abraçada,
frio húmido e gelado tenho como casa,
escorro pelos beirais
lavando a sujidade do Homem,
salpico os transeuntes nas poças do chão
para que abram os olhos de um alguém
que é multidão
inconsciente, anestesiada
pela rotina da avidez tão exigente,
trovejam os céus que comigo corroboram
a urgência da reformulação
do substantivo Humanidade na abrangência
de toda a sua complexidade,
parecendo que a cada dia se move,
sou mensageira da meteorologia dos sentimentos,
saudosos de um arco-íris de autencidade
que nas suas cores risca mentira e escreve verdade,
mas hoje...chove...


Cláudia Ferreira
20/02/2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

GOSTA-SE...E PRONTO...



Bolas de sabão desenham no ar
um ponto de interrogação
oriundas da passagem do sabonete da incerteza
pelo meu inconsciente recatado de destreza,
incoerência de resultados elaborados pela ciência
que sabe levar o Homem à lua
mas deixa em terra a explicação
das escolhas humanas que as mentes
aconchegadas no comodismo
aguardam sem esforço uma revelação
colocando no mesmo saco da indagação
o que é crucial ou banal
onde a introspecção não dá qualquer sinal.
Serei atrevida por me permitir
ir além do que os olhos vêem?
Serei pecadora por me predispor
a passar a verdade vociferada
e enraizada em que todos crêem?
O disfarce é uma doutrina da qual
não sou seguidora nem tampouco
a representação que não pela
expressão de arte
tem em mim uma espectadora,
a inquietude é uma aprendizagem contínua
que talha a escultura da minha personalidade
levando nutrientes ao meu crescimento interior
sabedor da diferença entre existir e viver,
contar e somar, supor e verificar.
As bolas de sabão deixam cair o meu
ponto de interrogação que alegre
por voar se diz de volta a mim
para enfatizar as palavras que se ajeitam
para perguntar:
De onde, quando e como surgiu o verbo gostar?
Não quero frases feitas ou lugares comuns
teorias ornamentadas de literatura,
por isso a minha alma de pássaro sugere
que procure na primeira pessoa do singular
reformulando a minha questão com objectividade,
olho o espelho que reflecte a minha inquietação
sede de justificar o capricho do meu coração
que palpita por ti desde o dia em que Cupido
desajeitado o converteu enamorado,
suspiro saudoso da alma que me atormenta
procurando a solução para este nós inacabado,
mas porque gosto de ti?
Não quero! Não fui eu que escolhi!
Vai-te embora arrepio de paixão
quero cessar esta devoção,
não quero gostar de ti!
Os meus olhos perdem-se no infinito,
cai-me no rosto uma bola de sabão
que beija a minha face numa
caricia até ao meu ouvido
sussurrando letras de um qualquer conto
repetindo este refrão:
Ninguém escolhe as pessoas de quem gosta...
Gosta-se...e pronto...

Cláudia Ferreira
14/02/2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

AOS (E)NAMORADOS



Vocês que enchem o mundo
com o mais belo dos sentimentos
não aguardem por uma data
o que podem manifestar
a cada segundo sem contenções
não se deixem levar
pelas celebrações com data marcada
e ofertas materiais de quem de
amor não sabe mesmo nada,
ousem mostrar um afecto
sem medo do ridículo,
com pureza e nobreza,
no silêncio de um gesto,
no grito dos sentidos,
nunca se intimidem pela dificuldade,
não existe persistência
que não derrote a adversidade,
o longe é perto demais,
a diferença traduz-se em igualdade,
cada degrau da incerteza
é subido com tenacidade,
ontem já foi passado e
o amanhã é uma surpresa
pois nada é definitivo nem eterno
senão o presente que podem
agarrar sem pensar,
não procurem leis ou remédios
e lógica ou razão,
a essência está aí,
fechada na vossa mão.
O amor é a mais bela das flores,
o mais inebriante perfume,
o ser de todas as cores,
alimentem-no com doçura,
reguem-no com ternura,
guardem esse néctar abençoado
na adega do coração para que
possa ser bebericado, degustado
sem qualquer moderação,
toquem o céu e percam-se nas estrelas,
construam pontes para
caminhar sobre os entraves,
falhem redondamente e
voltem para continuar
a caminhar nessa estrada dourada
pelos deuses abençoada,
onde pouco consegue ser muito,
onde nunca pode ser já,
criem uma linguagem só vossa,
cantem o que a alma vos sussurra
com uma nota identificada,
subam montanhas de desejos,
vejam o horizonte sem projectos,
ergam um castelo de momentos
com tijolos de instantes,
assistam ao enlace do céu no horizonte
com sorrisos de criança radiante,
mas sobretudo...
não tenham receio
do vosso barco naufragar,
pois pior que não terem conseguido...
é não ter havido a coragem de tentar...

Cláudia Ferreira
13/02/2010


LÁGRIMAS DE SANGUE



Abro o livro da nossa história
escrita por cada dia que
a vida nos permitiu
sermos personagens principais
de um guião predestinado
à tragédia que a plateia da ironia
assiste regozijada aplaudindo de pé
a nossa derrota idolatrada,
ávida de sangue e lágrimas
sem traço de misericórdia
sorri sombria ao trespasse
de dois corações abraçados
pelo infortúnio da devoção
que rezam a cada hora,
suplicando o resgate
de uma liberdade sem demora.
Que autor foi o criador deste romance
condenado pela crítica sarcástica?
Quem criou o cenário embelezado
pela cor da nossa lástima?
Personagens secundárias entram
neste elenco de papéis sabiamente
decorados com um desempenho
eloquente de vilões de emoções
que nos estendem as mãos
sujas pelo pó da traição,
agarram-nos num ápice
para manipularem, troçarem,
espezinharem, até à nossa exaustão
e num impulso empurram
as nossas almas já devoradas
para o tão temido alçapão da negação.
Releio cada página do livro com
a esperança dele conter uma
resposta encoberta, um parágrafo
por inventar, uma frase inacabada,
uma letra em vão caída no chão,
uma não frase de ilusão.
Que texto amaldiçoado é este
que deita por terra a minha esperança?
Porque não te reescreves de alegria?
Porque me subjugas a este massacre cada dia?
Interrompo a leitura pois dos meus olhos
caiem lágrimas de sangue
ao sentir essa recordação e leio-me
no pensamento sabendo de antemão
uma verdade, um ensinamento:
No amor chegamos à resignação...
...mas nunca ao esquecimento
...




Cláudia Ferreira
12/02/2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

NÃO SEI...NEM SEI SE O SABEREI...



O dia camufla a tua ausência
mas a noite é cruel e rega
as raízes da minha saudade de nós,
o silêncio convida ao eco do nosso riso
de alegria que preenchia e embelezava
o meu coração de cristal brilhante
que irradiava luzes da cor do carinho,
calor, paixão, amor, devoção...
Éramos nós...
Sem tempo nem lugar, sem limites para sonhar,
asas soltas para voar no céu
bem alto de quem cruza o horizonte
dos sentidos deslumbrados,
palavras bebidas pelos lábios que se tocam
e falam dialectos secretos,
corpos que tremem ruborizados pela
inocente timidez de se saberem desejados,
somos meninos sentados num banco de jardim
de mãos dadas com a pureza desse sentimento
que é tão nosso, nascido à revelia do pensamento
sem perguntar se podia ficar
se o podiamos guardar tatuado na alma,
imponente, corajoso, forte, poderoso, avassalador,
mar agitado que se viu incontrolado,
a adversidade desencadeou a tempestade,
as ondas afogaram o destino,
as nuvens choraram o nosso desgosto,
o vento soprou raivoso sobre aqueles
que moveram a terra para apartar os nossos caminhos,
o fogo chicoteou com labaredas os dedos perversos
de quem nos fechou a porta da felicidade,
o universo ficou magoado ao ver-nos
separados pelas garras da águia da inveja,
da cobiça, da intriga, da mentira, da perversidade,
que frustrada liberta a sua ira sobre nós
traçando um eu sem ti..., um tu sem mim...
Suplico ao mundo para te devolver...
Onde estás? O que sentes?
Não sei...nem sei se o saberei...
Mas sei onde estou e o que sinto...
Estou aqui, pisando este soalho
construído pelos destroços
daquele coração de cristal
que caiu no chão e se partiu,
todos os dias encontro um pedaço
e guardo-os um a um na gaveta da dor
de um desgosto de amor,
existo sem viver, este aperto no peito
solta uma lágrima, vontade sem querer perguntar
nem responder, um tudo cheio de nada,
multidão fechada na mão que aguarda
a minha voz calada que grita estilhaçada:
VOLTA!!!
Como é a tua vida sem nós?
Não sei...Nem sei se algum dia o saberei...



Cláudia Ferreira
09/02/2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

SERÁS ASTRO?





De que galáxia chegaste de estrelas revestido?
Luz intensa o teu olhar raiado de uma transparência
sobrenatural que liberta faíscas estremecedoras,
a tua voz são acordes de piano afinados
que embelezam essa noite de lua cheia,
os teus dedos perfumados de jasmim foram tecidos
com subtileza pelos mais belos fios de seda carmim.
Com que energia cósmica leve e inaudível
te deslocaste até mim?
Teu andar é uma valsa que abraça
num rodopio de passos de cetim,
os teus braços são dois raios de sol roubados
que liquidificam glaciares
ao olharem para ti, o teu corpo
é vulcão em erupção
lava escaldante que gosta
de se sentir desconcertante.
Que constelação te criou
e sabendo-te um astro te enviou?
Tua boca é fruto silvestre
de vermelho frutada de
de vitaminas pincelada,
teu rosto foi talhado pelo
mais talentoso artesão
com traços de força bela e
leve pitada da mais deliciosa canela.
Olho para o céu e procuro-te
sentindo o momento mágico em que
o teu olhar se cruzou com o meu,
relâmpago de paixão num abraço que cedeu
sobressaltando o meu mundo sereno
que inebriado se rendeu ao teu,
não sei se por um segundo ou por um ano
pois não existe tempo no enlace fugaz
de dois seres recortados para a moldura do amor,
não existe espaço que resista
ao fervilhar veloz do sangue aquecido
pelo bater incontrolado de dois corações
que sentem o sabor divinal
de uma fusão de almas sem temor,
eternizadas no cosmos dos sentidos
desobedientes e atrevidos,
trovoadas de emoções sem definição,
fascínio da felicidade sem padrão,
no silêncio rezamos juras inéditas
entregues a uma estrela cadente
e desapareces nesse instante
à velocidade da luz sem que
tenha tempo de saber quem és
tu deixas em aberto o teu rasto,
grito ao universo o teu nome...
...que não sei...
...
SERÁS ASTRO?



Cláudia Ferreira
06/02/2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CAVALEIRA DE SONHOS




Rabisco na folha solta da minha imaginação
traços de personalidade fragmentada
pela erosão da realidade veloz
que atropela um inconsciente desolado
perdido no nevoeiro dos desejos sem voz.
Observo traços soltos que o lápis do desencanto
teima em desenhar sem cessar
expressão desordenada de um pensamento
que divaga ao procurar no abandono
o caminho de retorno
murmurando a memória de uma estrada
situada entre a partida e a chegada
da ousadia do sonho inconformado
por se expressar abandonado
em folha rasurada pela alma
de cicatrizes adornada,
sufocada pelo muro da razão.
Um vento que sopra
sobre a minha folha de papel
transporta-a no rodopio de um carrossel
de esboços que pedem para ter forma
adivinhando-se um cavalo que salta
para outra dimensão, essa que só conhece
quem não se esconde no biombo da ponderação
seres que se negam, anulam,
estranguladores de vozes interiores,
corações amordaçados, amedrontados
pelo receio de sentir, desejar, rir, chorar,
gritar, amar...e um sem fim de vocábulos
que traduzem estagnação do crescimento interior,
desconhecimento de momentos de ardor.
Fito o cavalo que me sabia sedenta
de acariciar a sua crina de esperança
a mulher dá lugar à criança que dentro de si
teima em mostrar que é imperativo sonhar,
sem hesitar entro a galope na existência com vida
trago uma estrela para iluminar o caminho,
um raio de sol para aquecer a solidão,
um pedaço de céu para salpicar de azul a escuridão...
assim sou eu: CAVALEIRA DE SONHOS...
Procura-me num pedaço de papel,
num rasto esbatido, numa noite de luar,
num sorriso perdido, num rasgo de sensações,
num mantra que ecoa, num botão caído num chão,
numa brisa que te afaga o cabelo, no refrão
da tua canção esquecida...
Agora tenho de ir...
lembrei-me de uma verdade
que deixava esquecida...
vou contar-te um segredo:
pssss...o sonho comanda a vida!


Cláudia Ferreira
05/02/2010

domingo, 31 de janeiro de 2010

REFLEXÃO





Debruço-me sobre mim
aconchegada
por este lençol enrodilhado
reflexo de um corpo cansado
das acrobacias da lenda pessoal
imperadora de aventuras entre os atalhos
de esperança traçados com pulso de fé
adornado pela pureza de uma rosa branca
que perfuma a mulher
com alma de criança.
Aliso o pano da tela que me revela
o imaginário colectivo
onde tropeço em palavras soltas,
sentimentos vazios,
projectos de vida inacabados
por seres em série fabricados
perdidos na estrada da fraqueza emocional
tomando percursos do reino material
esquecidos de sorrisos iluminados
escondidos no fato sem talho
dos sucessos inanimados
na glória da inocência anulada
pela hipocrisia mundana
da infelicidade calada.
Recolho a tela pois sei
que não me encontro nela
o meu ser está consagrado
a um caminho ladrilhado
pela sabedoria dos corações que falam
eles que se sabendo ignorados
gritam o que os homens
calam por medo de sentir,
aterrorizados
pela voz interior que os convida
a descobrir o universo que inquieto
lhes abre os braços e oferece tintas
das cores da essência humana
para que possam ser pintados
os mais belos quadros da vida
estradas de harmonia de inércia despidas,
aceito o desafio de colorir o meu destino
mas quero perder o receio e a hesitação
páro, escuto, penso...
ajeito-me determinada no véu da
reflexão...

Cláudia Ferreira
01/02/2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

As páginas onde te lês/Parabéns Cláudia






Cuidadosamente abres o livro
de uma vida a desabrochar
ensaias as palavras que denunciem
o teu viver
o teu olhar.

O vermelho com que vestes
o teu corpo
não e só da dor
que teimosamente
tentas decifrar
é o perfume de um amor
prestes
a nascer
numa alma a desabrochar

Não te percas
nesse livro de tristeza
e solidão
procura
na linguagem do tempo
as palavras que te afaguem
nas noites de solidão.

As paginas onde te lês
são de dor
de procura
traços desenhados
a cor preto
como a saudade
que guardas no peito
sentimentos escondidos
nas quimeras
que não crês.


Desabrocha a rosa rubra
que no teu coração plantas-te
rega-a com palavras de esperança
desfolha de novo o livro
com olhar renovado
de criança.


São Gonçalves
25/01/2010





Queria escrever com letras coloridas
as mais belas palavras de uma amizade
queria encher para si um cálice de felicidade
desenhar estrelas no caminho da vida
de quem me devolveu um sorriso esquecido
que com letras brotadas de uma alma genuína
me permitiu sonhar e ser de novo uma menina
queria erguer um palácio de emoções belas
espelhar o que sinto em traços de aguarelas
mas como sou apenas uma simples mortal
exprimo-me deixando falar o meu coração
nele esta gravado com ternura:
OBRIGADA SÃO!***

Claudia Ferreira
26/01/2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

ANJO NA TERRA




Tu que me observas com a alma
diz-me quem sou sem me saber
retrata-me à sombra da tua luz
desencontrei-me tanto da vida
por vezes lembro-me esquecida
em farrapos de lucidez vejo
uma mulher que se esconde
mas que se procura sem saber onde
quem sou?...
Nunca te esqueças que és
um anjo nesta terra imunda
nunca te esqueças que és
uma alma pura numa mulher linda
nunca deixes que alguns montes de lixo
a quem dão o nome de gente
seres vazios, sem emoção
nem qualquer tipo de percepção
te magoem, te façam sofrer
usem a tua bondade e
o teu coração cheio de pureza
por favor não deixes
que cheguem perto de ti
são sujidade, malvadez, crueldade
nunca te esqueças da tua essência translúcida
que apaga qualquer dor e
pode ensinar a esses vermes
o que é a palavra amor
nunca te esqueças que são seres contaminados
pelo interesse, cobiça, inveja,
traição, dinheiro, poder, submissão,
mentira, altivez e sem coração
nunca te esqueças o quanto és
diferente deles e especial
eles não passam de um fato de carne
de algo material nunca poderão compreender
alguém sensível, pura, verdadeira e leal
não te esqueças que está na hora
de dizeres não a tanta representação
esquece algumas coisas a quem chamam pessoas
chega de tristeza e aflição
não permitas que te façam derramar
nem mais uma lágrima por favor
isso provoca-me tanta dor
começa do zero e escolhe de entre esta multidão
alguém a quem se possa chamar pessoa
seres humanos sem enganos
sei que ainda existem
mas não sei onde para te dizer
sei apenas que tu conseguirás saber
e encontrar, aqui, na rua,
no trabalho ou em qualquer lugar
basta o teu olhar atento e limpo
e vais adivinhar
tu que vês a alma e o coração
de todos sem ilusão
vês os seus defeitos e mesmo assim
aceitas que te chamem de amiga ou amor
quando apenas te querem provocar dor
nunca te esqueça que não és mais alguém entre tantos
não, tu és especial, um ser doce e emocional, puro e real
UM ANJO NA TERRA
...nunca te esqueças...


Cláudia Ferreira / Anónimo
23/01/2010

SE AS TUAS MÃOS CHEGASSEM...


Se as tuas mãos chegassem agora
eu seria a menina que
se abandona nos teus braços
e sonha constelações de estrelas
envolta num rasgo de paixão
encerrado pela distância de um refrão
que condenou a tua ausência
e grita a solidão para que a ti alcance
o ritmo do meu coração.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
que ventos cantariam
o brilho do meu olhar?
Que ondas acalmariam
o meu desejo de sonhar?
Rasgos de embriaguez emocional
tomariam a razão
no leito de dois corpos
que cansados de se perderem de si
rendem-se sem hesitação.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
seria escrita a mais bela história de amor
onde o tempo e a ausência
não rezam a glória
de nos limitarem à dor
pois o meus dedos recusam
vestir as luvas do desespero
decalcam o teu rasto de retorno
num enlace sem demora pois
sinto-te, sei-te e quero-te
junto a mim, nós, sem demora.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
que violinos tocariam
a melodia da minha alma?
Que raios de sol iluminariam
o meu sorriso deslumbrado?
Fecho os olhos e escuto
no estremecer da noite que cai
os teus passos de regresso
com sapatos de veludo
o regresso de quem nunca vai.
***
Se as tuas mãos chegassem agora
serias um prolongamento de mim
delírio coberto pela delicadeza do cetim
que envolve a pureza de um gesto
ao esconder uma lágrima de emoção
pois regresso desse lugar encantado
fito o horizonte em vão e
recolho-me a mim nessa hora
pois divaguei por saber
...que as tuas mãos não chegam agora...



Cláudia Ferreira
22/01/2010