sábado, 6 de março de 2010

POR FAVOR...




És a verdade dos que te negam,
rezam-te como oração decorada
numa bíblia editada pelos crentes
da virtude suja e manchada
pelos sorrisos cinzentos sem alma,
pelas mãos que subtraem oferendas,
rosto de pó de cinza maquilhado
com corantes de ilusão,
palavra escrita com tinta sangrenta,
pano de chão já rasgado e cansado
de limpar as pegadas de quem te sustenta.
És estrada de nevoeiro vermelho
que rasga a alma de quem a percorre,
bosque de mato espinhoso
repleto de armadilhas engenhosas,
beco deserto sem sinal de trânsito
ladrilhado por gargalhadas estridentes
de juízos errados gravados nas mentes,
adjectivação incoerente e desastrosa
citada por voz doce e melodiosa,
substantivo contornado por sinónimos
melindrosos, que te escondem a identidade,
persuasão falsa que se quer tão perigosa.
Eu grito-te guerra em todas as frentes,
indução em erro, ficção, falsidade,
dizem-te afirmação contrária à verdade,
eu conheço o teu nome induzido em erro,
presente na rotina da multidão que
talhou de basalto um negro coração,
estou exausta de fingir que não te vejo,
extenuada de ser arbitrária ao teu desejo,
és demolição do edifício da paz interior
que te decifra sabendo-te de cor,
serás banida, punida, varrida
com a vassoura da indignação,
por favor... vai-te embora
da tua religião não sou oradora,
quero sentir a paz de quem bebe
a razão, com firmeza sentida
declaro morte à mentira
mesmo que isso implique a
minha solidão...

Cláudia Ferreira
05/03/2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

DESPIDA DE MIM


Abandonei-me sem retorno a mim,
o que fui segredei ao vento,
o abrigo a quem confiei
o tesouro humano que era
para que o possa com justiça entregar
a quem por ele tanto espera.
Leva o meu sorriso de felicidade acreditado
ele pode iluminar o rosto
de quem conheceu o desgosto,
enxugando as lágrimas dos que
nada aguardam da vida, conta-lhes
que tomei o seu lugar,
não precisam mais chorar,
eu guardo as suas dores
para que se possam resgatar.
Leva as minhas mãos aos doentes,
acarinha-os com a minha fé,
nos meus dedos está uma farmácia
de virtude de quem com um
toque de pureza alivia o tormento
e ordena ao corpo que se regenere
e se vista de saúde.
Leva o meu olhar brilhante
às crianças dos quatro cantos do mundo
que perderam a infância
roubada pelas calamidades,
agora podem sonhar de novo
com um mundo que criarão
onde a cor e a alegria
matam a escuridão,
diz-lhes que em cada uma delas
deposito toda a minha esperança
como quem rega a mais bela flor
sei que vão crescer a acreditar
na importância do amor.
Leva a minha força às searas de trigo
para que cresçam milagrosamente
transformando-se nos mais saciantes pães,
distribui um por um como exterminadores
da fome ao que reza por uma migalha
e há dias que não come.
Leva o meu coração e sopra-o
por todos os Homens,
deixa que se contagiem
com a beleza do perdão,
com a nobreza dos sentimentos
pois assim a sua passagem por aqui
jamais terá sido em vão.
O que restar do que te entreguei,
transforma em brisa perfumada
a cada entardecer,
sabes que me despi de mim
para criar um lugar de bem aventurados,
agora vai...
eu fico aninhada na minha alma
não esqueças os meus recados...

Cláudia Ferreira
05/03/2010