És a verdade dos que te negam,
rezam-te como oração decorada
numa bíblia editada pelos crentes
da virtude suja e manchada
pelos sorrisos cinzentos sem alma,
pelas mãos que subtraem oferendas,
rosto de pó de cinza maquilhado
com corantes de ilusão,
palavra escrita com tinta sangrenta,
pano de chão já rasgado e cansado
de limpar as pegadas de quem te sustenta.
És estrada de nevoeiro vermelho
que rasga a alma de quem a percorre,
bosque de mato espinhoso
repleto de armadilhas engenhosas,
beco deserto sem sinal de trânsito
ladrilhado por gargalhadas estridentes
de juízos errados gravados nas mentes,
adjectivação incoerente e desastrosa
citada por voz doce e melodiosa,
substantivo contornado por sinónimos
melindrosos, que te escondem a identidade,
persuasão falsa que se quer tão perigosa.
Eu grito-te guerra em todas as frentes,
indução em erro, ficção, falsidade,
dizem-te afirmação contrária à verdade,
eu conheço o teu nome induzido em erro,
presente na rotina da multidão que
talhou de basalto um negro coração,
estou exausta de fingir que não te vejo,
extenuada de ser arbitrária ao teu desejo,
és demolição do edifício da paz interior
que te decifra sabendo-te de cor,
serás banida, punida, varrida
com a vassoura da indignação,
por favor... vai-te embora
da tua religião não sou oradora,
quero sentir a paz de quem bebe
a razão, com firmeza sentida
declaro morte à mentira
mesmo que isso implique a
minha solidão...
Cláudia Ferreira
05/03/2010